sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Experimente não o ter nesta sociedade igualitária

A sociedade não é sexista. Ela também não é racista e nem discriminatória. Não, se você tiver um elemento que se sobrepõe a tudo isso, inclusive, sobre seu caráter: dinheiro.

Se você o possuir, seus direitos serão todos garantidos, você terá sorte e todos os anjos e santos estarão ao seu lado. Não, espere!  Você está sendo radical, moça! Vivemos numa sociedade igualitária. “O sol nasce para todos”.

Ah, claro, igualdade está lá garantida na lei. Mas, será que o seu José, que é pedreiro, perdeu os movimentos de um braço, não consegue mais trabalhar e luta para ser aposentado está sabendo disso?  Provavelmente sim, ele sabe, o problema (ou melhor), a realidade é que ele irá penar anos até conseguir comprovar sua incapacidade (se viver até lá), pois ele não dispõe dos mecanismos que na prática agilizariam sua vida.

Não estou dizendo que tudo por aqui, precisa ser pago, para ser conquistado, mas é fato que a classe social é fator determinante no tratamento que os cidadãos recebem. Nestes belos tempos de “igualdade”, vale mais quem tem mais.

Se a mesma situação ocorresse com o Sr. Albuquerque, um profissional gabaritado, doutorado, muito bem estabelecido na sociedade, ele passaria pelos mesmos perrengues do pedreiro? Lamento informar ao que acreditam na equidade social, mas a resposta é não.

Vamos ao caso das mulheres – e desse, falo de cadeira.  Conquistamos alguns direitos, saímos para trabalhar, assumimos funções antes somente masculinas, votamos. Enfim, estamos na escalada, só que as coisas não tem sido fáceis do lado de cá.

Mais uma vez volto à questão social. Continua sendo uma penúria ser mulher nesta sociedade, digo pertencer ao sexo feminino não ter aquela tal posição social, que garantirá o respeito necessário.  Posição que irá evitar o assédio sexual e moral, os salários inferiores, a objetificação e garantir a consideração necessária.

Ter menos é lutar diariamente para ser visto, para não ser esquecido e nem abandonado pela sociedade igualitária.


·        * Os nomes são fictícios.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Balaio, uma história de amor por cães e gatos


São 26 cães e pouco mais de 100 gatos. Todos chamados pelos seus respectivos nomes, cada um com sua própria história de abandono, maus-tratos ou simplesmente indigentes em risco pelas ruas da cidade. Felizmente todos tem algo em comum: foram resgatados e hoje estão sob a proteção do Balaio de Gatos.

Quem observa Giane Farias lidar com seus protegidos enquanto realiza as tarefas do dia-a-dia no abrigo não imagina como ela consegue identificar cada um e dividir a atenção entre todos. “Eles têm suas particularidades, temperamento e dificuldades. Aqui damos nosso tempo para eles”, explica a coordenadora e criadora do Balaio de Gatos.

O abrigo é também a casa da família, formada pelo marido de Giane, Daniel Oliveira, e pela mãe, Terezinha Farias. Enquanto conhecíamos as instalações, Terezinha não parou nenhum instante com o trabalho, aproveitando o sol para lavar o quintal e as cobertas dos animais. “Minha mãe está com 63 anos, as vezes é difícil para ela, mas o trabalho não pode parar”, diz.

O Balaio de Gatos não é uma entidade oficial. Questionada, Giane argumenta que para isso seria necessária toda uma estrutura. “Precisamos é de um grupo de pessoas comprometidas para cumprir a Lei da Guarda Responsável”, aponta. Para ela, a solução para controlar o número de animais abandonados seria um programa de castração, o que hoje não existe no município.

Muitos dos animais são resgatados doentes ou atropelados. Nestes casos, são encaminhados às clínicas veterinárias e também tratados em casa. Os tratamentos, assim como a alimentação são obtidos através de doações. No entanto, a situação atual do abrigo pode colocar o trabalho em risco.

Dificuldades – Recentemente Giane anunciou a possibilidade de encerrar a atividade do abrigo. O motivo é a dificuldade que tem encontrado para manter a estrutura e conseguir pagar mais um ajudante para auxiliar nos trabalhos diários.

“Hoje eu enfrento um câncer, desisti do tratamento, pois não consigo ajudar no serviço se fizer a quimioterapia”, revela Giane. O tumor localizado nos ovários foi descoberto há 11 meses e para retomar o tratamento seria necessário que ela se afastasse das tarefas no abrigo. “Atualmente temos apenas um colaborador fixo, fica difícil pagar alguém para trabalhar aqui”.

Estrutura – O Balaio de Gatos fica na própria residência da família, que foi totalmente construída para atender aos animais. Apesar de já estarem instalados desde outubro do ano passado, a obra ainda não foi concluída.

Os canis ainda precisam de conclusão e o quintal de um sistema de escoamento, já que em dias de chuva, a parte onde ficam os cães alaga. O gatil está praticamente concluído, mas ainda é necessário trocar a porta de madeira por um com tela para garantir o fluxo de ar no ambiente onde ficam os felinos.

Animais – Os cães e gatos resgatados pelo Balaio de Gatos estão disponíveis para adoção. Grande parte já está na fase adulta, mas também existem filhotes. “Temos um espaço separado para a maternidade. Muitos são resgatados prenhes ou com filhotes sendo amamentados”, comenta Giane.

Ela explica ainda que é possível apadrinhar os animais. “Existem casos em que a pessoa se apaixona pelo bichinho, mas por algum motivo não pode levar para casa, aí se torna madrinha ou padrinho”. Os padrinhos ficam responsáveis pelas despesas do animal, sem a necessidade de tê-lo em seu convívio.

A adoção é uma das formas de manter o trabalho do Balaio de Gatos ativo. Todos os animais disponíveis estão saudáveis. “Eles são muito carentes de atenção, pois vários foram resgatados em situação de risco ou de sofrimento”, aponta.

Para adotar ou apadrinhar algum dos bichinhos do Balaio de Gatos é necessário entrar em contato com a tutora através do telefone (45) 3572-9498 ou pelo Facebook, clicando aqui.

Impressões – No portão da casa fomos recebidos por uma husky siberiana que insistia em nos “abraçar”. No alto do muro um gato tigrado e elegante observava desconfiado. O tamanho e a urgência de atenção da husky assustaram um pouco, mas logo a tutora Giane Farias avisou que aquilo é apenas carinho. E era mesmo.

Entramos na casa onde vive a família. Poucos móveis, muitos pratos com ração e água e várias caminhas, onde gatos de diversos os tamanhos e tipos dormiam preguiçosamente. Alguns até se deram ao trabalho de levantar ao se darem conta de nossa presença no ambiente.

No quarto do casal dormiam alguns outros felinos, entre eles o Nasi, que veio de Cuiabá (MT) com a família e foi o marco para início do trabalho dos protetores. Outra gatinha, ainda filhote, é pega no colo por Giane. Com os olhos semi-cerrados, percebemos que se trata de um animal especial. “Ela é cega, foi resgatada recentemente e provavelmente já sofreu com maus-tratos”.

A área onde ficam os cães (e alguns gatos também) é barulhenta e divertida. Alguns já debilitados pela idade e outros no auge da atividade manifestando toda vitalidade com pulos e latidos. A convivência entre eles é pacífica e apesar de cada um ter sua própria história parecem fazer parte de uma mesma família - até mesmo com os felinos.

Os animais e o ambiente são limpos apesar da pequena quantidade de pessoas para tantos bichos. Os banhos, segundo Giane, são dados em sistema de mutirão entre a família e alguns voluntários. Somente os cães encaram a água e sabão, já que gatos são dispensados desse tipo de atividade.

No final da visita, no portão de saída perguntei a Giane o que move, o que leva alguém a abraçar uma causa como esta mesmo com tantas dificuldades. A
reposta não poderia ser outra, com um fundo de latidos alegres de despedida ela olhou para eles e disse: “só pode ser o amor”.

Publicado originalmente no Portal H2FOZ
Fotos: Adilson Borges

quinta-feira, 4 de abril de 2013

O jornalista e a realidade da profissão


“Jornalistas conversam sobre tudo, mas poucos falam sobre seus direitos”.  Esta reflexão surgiu dia desses numa conversa com amigos jornalistas. De fato, sabemos (ou fingimos saber, procuramos saber), lemos, escrevemos e muitas vezes nos indignamos com injustiças do mundo.  Às vezes até lutamos pelos direitos alheios, sim, os direitos alheios. Assim, às vésperas de mais um dia 7 de abril – Dia do Jornalista – como estão nossos direitos?

Piso salarial, horas, ambiente, relações de trabalho, contratos, carteira de trabalho? São inúmeras as batalhas que compõem o cotidiano dos trabalhadores da imprensa. A categoria ainda é pouco organizada e muitas vezes nos sujeitamos a situações degradantes para exercer a profissão.

Não por acaso foi detectado em pesquisa concluída recentemente o aumento na incidência de depressão e uso de drogas como cocaína e anfetaminas entre os jornalistas. A pesquisa foi realizada pelo professor José Roberto Heloani, da Unicamp que apontou o assédio como um dos fatores agravantes da situação.

A figura do jornalista vive em torno de uma idealização tanto por parte da sociedade como da própria classe. Temos acesso a muitas informações, assim sendo, somos responsáveis pelo processo de comunicação social. Sem dúvida um trabalho de enorme relevância e alto nível de responsabilidade.

Talvez seja necessário que o jornalismo perca um pouco o ar de soberania para identificar a raiz de seu próprio problema. Ainda somos uma segmento  importante para o bom andamento do mundo, mas é fato que a profissão está precarizada e precisamos admitir isso.

Olhar para própria ferida é sempre mais difícil, mas este será um desafio em prol da dignidade do jornalismo. Será um trabalho de investigação, de vasculhar em nosso próprio dia-a-dia de trabalho tudo aquilo que não está dentro dos padrões legais e morais para o exercício da labuta.

Temos a lei, temos um sindicato e ainda somos privilegiados por temos acesso às informações pertinentes a nossa categoria, quando tantos outros trabalhadores carecem destas condições. Precisamos nos despir daquele senso de que somos intocáveis e encararmos a realidade que nos cerca.

Publicado originalmente no blog do Sindijor - Subseção de Foz do Iguaçu e Região.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Os religiosos e suas preocupações atuais


A religião, o moralismo e a questão da homoafetividade de fato entraram rol das discussões mais acaloradas da mídia nos últimos tempos. De um lado os que defendem o direito dos homossexuais, de outro, o que não aceitam os homossexuais.
Se repararmos a temática foge um pouco da sensatez, pois defender direitos para os homossexuais é defender direitos para seres humanos. O x da questão está justamente no fato de que muitos não aceitam pessoas que têm parceiros do mesmo sexo como seres humanos. Para muitos, são aberrações, são seres influenciados por espíritos malignos, são safados, enfim, não faltaria adjetivos para qualificá-los.
O assunto gera polêmica e traz consigo uma gama de conceitos adquiridos no seio de nossa sociedade machista e mal resolvida. Traz ainda um plus recebido dentro de templos religiosos, onde alguns líderes insistem em condenar e disseminar o ódio contra os homossexuais. Tudo isso, segundo eles, baseados na bíblia, a qual também colocam como orientadora da submissão de mulheres aos seus maridos. A impressão é que estamos regredindo na história.
Quando começamos a acreditar em uma sociedade mais igualitária surge uma declaração devastadora. Ultimamente, o pastor Malafaia, tem sido campeão em falar asneiras de cunho preconceituoso. Ta certo, o pastor tem o direito de não gostar do que ele quiser, mas demonizar um grupo de pessoas é incentivar a violência e o ódio.
A tolerância religiosa é algo imprescindível, no entanto, quando o fundamentalismo baseado em interpretações favoráveis a determinados grupos se arvora a disseminar maluquices, ele precisa ser combatido. Se a bíblia em algumas passagens condena a homossexualidade, em outras ela também incita o apedrejamento de mulheres, a escravidão, entre outras ações inaceitáveis na atualidade. Se essa preocupação toda com o tal do “moralismo” se transformasse por exemplo, em uma luta contra o trabalho infantil, contra a miséria, a corrupção... Bem, tem uma série de brigas boas para serem compradas.
Acredito que a religião, deva ser uma ferramenta de auxílio ao ser humano no processo de evolução (estamos aqui para evoluir, certo?) e não o contrário. Se o principal ensinamento de Jesus foi o amor, qual a razão de tanto ódio pregado por alguns religiosos que se dizem seguidores dele? Cada um tem o direito de acreditar no que bem entender, mas tem também a obrigação de respeitar os diferentes. Aliás, eu continuo acreditando que esses “diferentes” nem são tão diferentes assim dos que os condenam...