O patriotismo que supera a razão
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O Brasil tem um antagonismo interessante: ou se deprecia com
a velha máxima “só no Brasil isso acontece” ou insufla demais seu orgulho pela
terra como se fôssemos criaturas superiores. Dentro disso surgem questões
preocupantes, como o preconceito latente – acredito eu - derivado de uma dificuldade de
aceitação de nossas próprias origens.
Quando a pauta é esporte, principalmente o futebol, essa
relação social se torna muito mais nítida. Ao vermos um torcedor brasileiro no auge de
sua fúria classificando um atleta latino como “macaco” estamos diante de uma
relação de poder, talvez gerada não apenas por nos acharmos superiores no
futebol, mas também por estarmos (teoricamente) em situação mais confortável
economicamente, afinal somos os emergentes da vez.
No futebol somos a “casa grande”, aí o patriotismo vem com
força total. Ninguém repara em nossas mazelas, ninguém nota se um viaduto caiu
e matou dois. O assunto mais importante é que “aquele macaco” deu uma joelhada “criminosa”
em nosso menino Neymar.
Neymar, por sua vez, também já sofreu com ataques racistas
na Espanha, onde atua. Aliás, na Espanha alguns gostam de chamar os brasileiros
de “macaquitos”, é nós rebatemos chamando eles de racistas e dizendo que aqui
pelo menos temos empregos, estamos em ascensão econômica (estamos?) e eles no
abismo da recessão.
Hoje o Brasil vive um momento curioso, existe um movimento
forte de elevação do moral nacionalista. Virou falta de patriotismo criticar
qualquer coisa, é o combate ao famoso “complexo de vira-lata”, o que pode ser
positivo em certos aspectos, mas essa também pode ser um fenômeno ideológico
nocivo. São as formas simbólicas de estabelecer um status. Acho que o Estados
unidos devem ter passado por isso até acreditarem que são o centro do mundo.
É lógico que esta é uma análise rasa de uma situação muito
mais complexa, mas espero que este crescente patriotismo não nos torne um país
hipócrita, que nega suas raízes e se coloca como superior aos demais. O caso do preconceito contra o jogador
colombiano pode ter partido de uns poucos idiotas e ser um caso isolado, mas
também pode ser o reflexo de uma nova visão que os brasileiros têm de si mesmo.