Que pecado
seria mais pesado àquele que deturpa, manipula e infiltra no imaginário popular
disseminando a ideia de que todas as mazelas do mundo atual são fatos isolados?
A realização de um espetáculo diante de uma tragédia provocada pela insanidade
de um dos tantos insanos gerados pelo sistema capitalista, em nenhum momento
aponta para si. A mídia tem o poder de se eximir da culpa. Não oferece sequer a
mais remota possibilidade de que tais fatos possam advir de uma sociedade cada
vez mais pautada pelo individualismo e por valores estabelecidos pelo sistema
dominante.
No sofá da
sala testemunhamos quase que instantaneamente o show de horrores em uma escola
do Rio de Janeiro. Os mestres consultados pela reportagem jamais sugerem que
tais fatos podem ter uma ligação com a sociedade em vivemos, com os valores
apregoados por essa mesma tevê que especula as razões do acontecido. A forma de
repercutir este tipo de acontecimento já está pronta, é um modelo
pré-fabricado, lançado no momento em que o fato ocorre. Este modelo parece
querer compreender cada detalhe do assunto em questão, porém, já está
programado para excluir o real motivo.
Para que
haja compreensão destas questões é necessário apropriar-se do conhecimento
sobre o “modus operandi” do capitalismo. A mídia, ao tratar determinados
assuntos (inquietantes para sociedade) utiliza-se do efeito ideológico para
produzir a dominação. E este é seu papel, enquanto reprodutora do sistema. A
sensação que temos ao assistirmos uma reportagem tão bem recheada de fatos e
desdobramentos possíveis é a de que aquilo é a mais pura expressão da verdade.
Quem há de contestar?
Neste
padrão de qualidade se dissimula o cerne da questão. Sem mencionar a realidade
por trás dos fatos, a verdade dura de engolir, aquela que nos revela que o
verdadeiro mal está inserido diretamente no seio da sociedade dominada e
manipulada pelo capitalismo.
A grande
mídia, enquanto parte do sistema jamais colocará à disposição da massa a triste
realidade em que vivemos. A doença não é apenas do homicida, é a doença da
sociedade, é a doença da própria mídia, é o mal estar provocado por um modelo
que castra identidades e gera as patologias do chamado “mundo moderno”. A forma
não explica que hoje os consultórios psiquiátricos (e outros) estão lotados de
humanos que ainda não estão totalmente enquadrados naquilo que seria o ideal da
sociedade capitalista, mas que vivem diariamente a angustia de tentar fazer
parte deste ideal. Assim, o melhor é rotular estes desagregados como bipolares,
depressivos, maníacos e tantos outros adjetivos que explicam os conflitos
internos.
Para uma
comunicação a serviço da classe dominante é muito mais apropriado promover um
sistema de consciência coletiva, isolando fatos, do que tocar no olho do
furacão. Quando o telespectador ouve o jornalista citar uma possível
ligação do assassino de crianças da escola com redes extremistas islâmicas,
logo ele fará uma associação com a reportagem que leu na semana anterior,
justamente sobre este “tipo de gente”. Pronto; a consciência coletiva está
montada, conforme deve ser, a ordem está legitimada.
Assim , com a população é adestrada para “entender” o que passa em
sua sociedade, o fluxo segue seu rumo normal. O pecado já tem um dono. A
mídia já esclareceu tudo que lhe caberia e a ideologia é reproduzida para
cumprir se papel legitimador do poder dominante – como
sempre. Artigo publicado no site www.guata.com.br
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